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Meia banda do céu pode vir abaixo em caso de fraude que envolveu a Junta Comercial do Piauí, bancos, cartórios e uma figura ilustre da OAB-PI |
![]() CADÊ A DECISÃO DA JUCEPI? Apesar de toda a modernização exposta em propaganda oficial, a JUCEPI sob o comando de Alzenir Porto não está dando conta de despachar um pedido de desarquivamento de atos de alteração societária em empresas que tinham como sócio o empresário José Luiz de Paiva Igreja II, conhecido como “Segundo”.
Sob condição de sigilo, fontes do PD na Junta Comercial afirmaram que o processo de número 2021.0653442 – no qual está o pedido de desarquivamento – tem sido guardado dentro da sala da própria presidente da JUCEPI e não pode ser manuseado. “É um daqueles processos que é uma bomba-relógio. Já sabemos que [a fraude em] pelo menos uma dessas empresas vai botar gente na cadeia. O Ministério Público já pediu informações e parece que a presidente ainda não respondeu, está atrasando sem saber o que fazer”, conta uma das fontes, sem dar certeza se a solicitação é do Ministério Público do Estado do Piauí ou Federal.
POST MORTEM Documentos públicos com as firmas reconhecidas em cartórios foram utilizados para mudar quadros societários de empresas das quais Segundo era sócio. Nada de mais até que se percebesse que Segundo teria assinado os aditivos depois de sua morte, ocorrida em 18 de março de 2018. O empresário deixou uma única herdeira que, em tese, seria prejudicada em sua herança pelos aditivos arquivados e trancados na Junta Comercial do Piauí.
A fraude em cartório já foi comprovada pela Corregedoria do Tribunal de Justiça do Maranhão. Um dos cartórios inclusive, já reconheceu o erro. E a partir daqui, é difícil não entender que o advogado Einstein Sepúlveda participou da fraude. Pode ser trabalho para o Ministério Público Estadual ou Federal. Pode ser trabalho pros dois: com os documentos falsificados, algumas das empresas fizeram empréstimos em bancos públicos oficiais, bancos privados, assinaram contratos com órgãos estaduais e investiram em concessões públicas. Se foi o advogado Einstein Sepúlveda ou outra pessoa quem sugeriu que fazer isso era um caminho seguro para se dar bem, essa pessoa promoveu uma enorme lambança. FALSIFICAÇÕES O acidente que vitimou Segundo foi no Piauí, a filha do empresário é do Piauí, a maior parte das empresas em que ele tinha participação são do Piauí. Einstein, advogado das empresas, também foi o responsável por abrir o inventário e fez isso em Caxias, no Maranhão.
As firmas falsificadas foram reconhecidas no Cartório do 1º Ofício Extrajudicial de Timon-MA para o qual Einstein também já prestou serviços advocatícios. O inventário aberto por Einstein no cartório do 1º Ofício de Caxias (Maranhão) omite bens materiais imóveis e veículos que eram de propriedade de Segundo e, para completar a lista de fatos que não parecem ser coincidência, Sepúlveda era, também, ao mesmo tempo, advogado da herdeira durante todo o primeiro ano que se seguiu após o início do processo. A ética passou longe de onde o crime fez abrigo neste caso. DENTRO DA ORDEM, FORA DE ORDEM A falsificação só foi descoberta quando a herdeira trocou de advogado. Após inexplicáveis adiamentos, Einstein entregou os documentos das empresas em questão para o advogado que o substituiu na defesa dos direitos da herdeira. A entrega dos documentos foi feita dentro da sede da OAB-PI, fato já comentado pelo Política Dinâmica em outra oportunidade. À época, Sepúlveda era tesoureiro da primeira gestão de Celso Barros Coelho Neto na Ordem.
TROCA DE ADVOGADOS E FAVORES? Informações obtidas pelo PD apontam que a partir do momento em que a fraude já não poderia ser mais escondida da herdeira, um tio dela, o empresário Afonso Gambogi tornou-se personagem ativo do processo. Ele, engenheiro civil, já acompanhava de perto a disputa familiar pelo espólio de Segundo. A partir de certo momento, teria passado a negociar diretamente com Einstein, sem o conhecimento do advogado constituído pela herdeira. No último mês de março de 2022, Afonso Gambogi passou a representar a sobrinha na herança sobre imóveis que haviam sido omitidos na abertura do inventário por Einstein Sepúlveda.
Dias depois da decisão que reconheceu as falsificações, o advogado que teria sido essencial para provar as adulterações e os bens omitidos, foi destituído do processo. O movimento, aparentemente, teria sido colocado como condição de negociação entre as partes representadas por Einstein e Afonso, inclusive, para impedir que o advogado tivesse acesso ao conteúdo do acordo formal e, consequentemente, negar-lhe honorários.
Uma tentativa de abafar o caso, talvez. Sem sucesso, com certeza. O QUE DIZEM? Procurado pelo Política Dinâmica, Afonso Gambogi afirmou que sua sobrinha e única herdeira “é maior de idade e responde diretamente pelos seus atos, não tendo nenhum representante, tomando decisões por si mesma” e que a mudança de advogado “é uma decisão estritamente pessoal, que a própria lei faculta”. Afirmou ainda que não iria mais comentar o caso. Afonso não quis falar sobre a relação dele com o advogado Einstein Sepúlveda. Sem ser questionado sobre o assunto, adiantou que o avô (pai de Segundo) e a herdeira sempre tiveram problema. Afonso também negou, em nome da família, que eles tivessem conhecimento sobre fraudes ou documentos falsificados relacionados à herança.
Neste ponto, a afirmação do tio é tão falsa quanto os documentos entregues por Einstein, uma vez que é exatamente a falsificação dos documentos que justifica o pedido de desarquivamento dos aditivos na JUCEPI e que garantem, também, os direitos da herdeira e, consequentemente, do advogado que trabalhou para que ela tivesse acesso à justa herança. O Política Dinâmica não conseguiu contato com Alzenir Porto nem com o advogado Einstein Sepúlveda. A herdeira parou de responder nossos contatos após menção do nome de Einstein nas perguntas. O advogado, que permanece no caso, agora, advogando em causa própria, não quis comentar o caso, informando ainda que diversos fatos devem ser esclarecidos. Todos os citados podem encaminhar suas versões, contestações e outras informações a qualquer tempo ao Política Dinâmica. A cada um deles é garantido o espaço de manifestação. De todo modo, podem ter certeza, vai cair meia banda do céu no dia em que o processo na Junta Comercial andar. Ou antes disso.
Fonte: Política Dinâmica/Marcos Melo |
Última atualização ( Sáb, 18 de Junho de 2022 13:15 ) |