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Laudo confirma que criança sepultada em José de Freitas foi abusada sexualmente |
O conselheiro tutelar Djan Moreira confirmou nesta segunda-feira (2 de maio de 2016) que a menina de 10 anos, que passou por ritual em Timon-MA, e que morreu com suspeita de intoxicação após passar vários dias no HUT, cujo corpo foi sepultado no povoado Mocambo, no município de José de Freitas-PI, foi abusada sexualmente e estava infectada com vírus HPV (human papilomavirus). “Os resultados desses exames já estão em posse da Polícia Civil e eles confirmam que a criança foi abusada e estava com HPV na garganta”, disse o conselheiro complementando ainda que o líquido ingerido pela criança não continha veneno. No dia 28 de abril morreu a garota de iniciais F.A.S.B, de 10 anos que estava internada no Hospital de Urgência de Teresina (HUT) há 15 dias. Ela foi hospitalizada com suspeita de intoxicação e tortura que teria sido praticada em uma suposta cerimônia religiosa. Um dia antes de vir a óbito, profissionais do HUT suspeitaram do abuso e pediram uma perícia para o Serviço de Atenção às Mulheres Vítimas de Violência Sexual (Samvis). Conselheiro Djan Moreira A titular do caso, delegada Tatiana Trigueiro, disse que não vai se pronunciar até que as investigações tenham terminado. Para o conselheiro tutelar Djan Moreira, os pais da vítima devem ser responsabilizados pelo o que aconteceu a filha. “O Conselho defende que a mãe e o pai sejam presos, porque a menina era menor de idade e eles eram os responsáveis por ela. Ela foi torturada, ingeriu um líquido estranho e foi abusada sem que eles saibam explicar como tudo isso aconteceu”, afirmou. Autópsia O delegado geral da Polícia Civil, Riedel Batista confirmou que foi realizada uma autópsia no corpo da criança e que só vai se pronunciar após a análise da perícia . “Com os laudos da autópsia, de um exame de sangue que vai determinar ou não a presença de veneno e do líquido que a menina ingeriu, com isso, vamos saber se ela morreu por ingestão do líquido ou alguma doença preexistente”, disse ele. Investigação Para a polícia, os pais da vítima relataram que frequentavam um salão de umbanda em Timon, no Maranhão, para tratar a asma da filha e pagariam R$ 3 mil pelo tratamento. O Conselho Tutelar de Teresina, afirmou ao G1 que a mãe deu pelo menos três versões aos conselheiros sobre como conseguiu o líquido ingerido pela garota após ritual. Uma delas foi a de que ela mesma teria produzido a mistura à base de ervas e açúcar. A promotora Vera Lúcia, da Vara da Infância e Juventude de Teresina, contou ao G1 ter solicitado instauração de inquérito para apurar os maus-tratos e outros tipos de violência na menina. "A mãe será responsabilizada pela indução da criança até a morte ao tomar esta bebida, sem nenhum tipo de recomendação médica. Por isso, ela deve responder por tentativa de homicídio qualificado, por motivo fútil, que tem pena de 12 a 30 anos de reclusão. Além disso, temos a denúncia de maus-tratos com pena de dois meses a um ano", comentou Vera Lúcia.DPCA que está investigando o caso O delegado geral Riedel Batista reiterou que o caso da menina de 10 anos continuará sendo acompanhado pela DPCA e os demais registros de tortura que tenham sido praticados no salão de umbanda em Timon serão investigados pela Polícia Civil do Maranhão. Mais denúncias A mãe de uma criança de Teresina submetida ao ritual de purificação em um salão de umbanda que fica a 20 km da cidade de Timon, no Maranhão, revelou ter sido convencida de que o filho precisava passar por um tratamento espiritual para não “virar criminoso”. O Juizado da 1° Vara da Infância e Juventude de Teresina recebeu do Conselho Tutelar a denúncia de que mais de 20 crianças teriam sido submetidas a torturas nesses rituais. “Eu sabia que lá funcionava um terreiro, mas não sabia o que realmente acontecia por lá. A mulher de lá conversou com a avó dele dizendo que ele precisava fazer um serviço. Ela (dona do salão) disse que ele no futuro iria virar um marginal, um criminoso, e qual é a mãe que não tem medo né?”, disse a mãe do garoto, que terá a identidade preservada. Juíza Maria Luíza Vara da Infância A juíza da 1° Vara da Infância e Juventude de Teresina, Maria Luiza de Moura Melo, disse que autorizou o Conselho Tutelar a recolher qualquer criança desacompanhada que apareça com as mesmas características dessa vítima (cabelo raspado e cicatrizes em forma de cruz). "Elas serão levadas para um abrigo, podendo os pais ter a suspensão da guarda ou até mesmo a destituição do poder familiar. O Conselho tem 24 horas para informar esses casos”, falou a juíza. Na avaliação da juíza Maria Luiza, nesse caso, as crianças estão em situação de risco, sendo obrigadas a tomarem chás ou bebidas tóxicas, e cortadas com lâminas ou objetos pontiagudos. “Não acredito que isso seja religião, mas sim crime de tortura", declarou a juíza. Filhas de dona de salão negam tortura Em entrevista ao G1 na semana passada, duas filhas da proprietária do salão de umbanda, onde os pais levavam a menina, negaram que as pessoas que frequentam o local sejam torturadas. Sem quererem se identificar, as mulheres afirmaram que os cortes nos praticantes de umbanda são superficiais e feitos com o consentimento dos responsáveis. “São pequenos cortes feitos no corpo, como se fossem uma raladura qualquer. A retirada de sangue do corpo da pessoa simboliza a vida. Do mesmo modo, as pessoas têm a cabeça raspada para simbolizar o renascimento, já que todos os seres nascem sem cabelos. Não praticamos tortura com ninguém, até mesmo porque quem deita santo [termo usado para quem passa pelo ritual] sabe o que está sendo feito, no caso da criança os responsáveis aceitam tudo”, relatou uma das mulheres. Uma das filhas da proprietária do salão de umbanda afirmou que ela e seus filhos passaram pelos procedimentos várias vezes e nunca sentiram nada e negou o uso de bebidas nos rituais. De acordo com a mulher, o ritual acontece da seguinte forma: a pessoa doente fica recolhida no quarto durante sete dias, recebendo apenas orações. “Nós temos algumas cicatrizes pelo corpo, mas quase imperceptíveis e nunca sentimos efeitos colaterais. Sempre passamos por isso quando sentimos algum problema de saúde ou de qualquer outra coisa. Além disso, não existe o uso de garrafada [mistura de ervas] para os praticantes de umbanda”, afirmou a mulher. Sem deixar fazer o registro de foto ou vídeo, as mulheres mostraram algumas marcas pelo corpo e apresentaram os filhos com a cabeça raspada, informando que eles passaram pelos mesmos rituais. “Eu tenho marcas nos braços e no pescoço e meus filhos também. Eles também tiveram as cabeças raspadas. Isso para nós é normal, como qualquer outra religião”, disse uma das filhas.
Fonte:G1/PI |
Última atualização ( Seg, 02 de Maio de 2016 23:25 ) |