Escrito por Saraiva    Qui, 25 de Agosto de 2016 10:46    Imprimir
Caso Fernanda Lages: cinco anos de espera por justiça

Nesta quinta-feira, 25 de agosto, a morte da estudante Fernanda Lages Veras, 19 anos, completa cinco anos e continua cercada de mistérios. O caso comoveu a população piauiense, chegou a ter repercussão nacional e é considerado um dos mais polêmicos já registrados no Estado. Ainda no início da manhã do dia 25 de agosto de 2011, a estudante do curso de Direito Fernandes Lages foi encontrada por operários na obra do prédio da sede do Ministério Público Federal, localizado na Avenida João XXIII, bairro Noivos, Zona Leste de Teresina-PI. O corpo da estudante possuía vários ferimentos. O 5º Distrito Policial foi acionado e deu início às investigações. A Perícia Criminal encontrou pedaços de paus e uma barra de ferro, além de restos da construção que alimentaram a tese de homicídio. De início, a hipótese de que Fernanda Lages havia sido morta por crime passional pelo ex-namorado foi descartada. Alegando falta de estrutura, o delegado Mamede Rodrigues, até então titular do 5º DP, transferiu o caso para a antiga CICO (atual GRECO). Ao todo cinco delegados especializados em Crime Organizado passaram a investigar sobre a morte da estudante.

Local onde o corpo de Fernanda foi encontrado

Funcionários da obra, além de pessoas próximas a Fernanda Lages foram ouvidos. Quase um mês depois da morte de Fernanda, o médico legista Antônio Nunes, do Instituto Médico Legal (IML) de Teresina, revelou detalhes sobre o laudo cadavérico da estudante, afastando quase que totalmente a possibilidade de Fernanda ter cometido suicídio. O legista afirmou que a morte da estudante foi causada por traumatismo craniano e que ela recebeu pancadas em sequência que provocaram várias lesões espalhadas pelo corpo. A demora na elucidação do caso juntamente com a suspeita de que a estudante na verdade teria se jogado da mureta da obra só aumentaram a indignação de amigos e familiares que realizaram protestos na cidade para pressionar a celeridade das diligências. Com isso, o Ministério Público entrou no caso e passou a apurar a morte de Fernanda.

Pais de Fernanda Lages

Além do promotor de Justiça João Mendes Benigno Filho, que já havia sido designado inicialmente, Ubiraci de Sousa Rocha e José Eliardo de Sousa Cabral foram nomeados para acompanhar o inquérito, já que tanto o Ministério Público Federal, quanto a OAB-PI cobraram mais rigor do órgão no acompanhamento do caso. Ubiraci Rocha chegou a fazer afirmações polêmicas sobre o caso e disse acreditar que os vigias da obra do Tribunal Regional do Trabalho estivessem omitindo dados. Em depoimento um dos vigias alegou ter problemas de visão e por isso não conseguiu enxergar com exatidão a pessoa que abriu a porta da obra na madrugada em que a jovem foi morta. Ele afirmou ainda não poder reconhecer se era ou não uma pessoa de seu convívio profissional. Para contribuir com as diligências, a polícia e o Ministério Público fizeram uma reprodução simulada do caso Fernanda Lages. Embasados em depoimentos, reproduziram os passos da estudante entre o Bar Pernambuco e a obra do Ministério Público Federal (MPF).

Promotores Ubiraci Rocha e Eliardo Cabral

A preparação para o procedimento começou às 03h da manhã e se estendeu por quatro horas. Seis amigos que estiveram com Fernanda na madrugada de 25 de agosto participaram da simulação. Uma policial com o mesmo tipo físico e trajando roupa e calçados semelhantes aos usados por Fernanda no dia do crime interpretou a estudante. A pedido da Comissão Investigadora do Crime Organizado (Cico), quatro pessoas tiveram prisão temporária suspeitas de envolvimento com a morte da estudante, mas uma semana depois foram soltas. Dentre elas, funcionários das obras do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) e do Ministério Público Federal (MPF). Dois meses depois, por solicitação do governador Wilson Martins, a Polícia Federal entrou no caso da morte de Fernanda Lages. Uma das primeiras ações da PF foi a exumação do corpo de Fernanda que chegou a ser levado para análise em São Paulo e Brasília. A também estudante Nayra Veloso, a Nayrinha, amiga de Fernanda Lages, chegou a ser presa. No entender da Polícia Federal, a jovem estaria tentando esconder detalhes que poderiam levar a conclusão do caso.

Fernanda Lages e Nayrinha

Nayrinha foi acusada de gerenciar garotas de programa. Ela ficou recolhida durante 10 dias às dependências da Penitenciária Feminina depois de ser interrogada na Polícia Federal. Em outubro de 2012, a Polícia Federal apresentou relatório sobre o caso Fernanda Lages e apontou que a jovem estava sozinha no momento da sua morte. O delegado Jose Edilson Freitas, explicou que todos os indícios apontam que Fernanda subiu a mureta do prédio do Ministério Público Federal sozinha e que segundo a velocidade do corpo, ao chegar ao chão, ela havia se jogado ou caído, já que a velocidade seria diferente em hipótese de homicídio. O delegado declarou também que Fernanda estava tomando medicamento para tratamento de enxaqueca, que se misturados com bebidas alcoólicas podem ter efeitos que levam a depressão e até mesmo ao suicídio. Já com relação às feridas no corpo de Fernanda, o delegado informou que todas as feridas foram resultantes da queda. Freitas disse que todas as fraturas no crânio, as costelas e braço quebrados foram decorrentes da violência da queda do alto do prédio. Já em fevereiro de 2014, foi apresentado o laudo do perfil psicológico da estudante por peritos de Brasília na Academia de Polícia Civil do Estado do Piauí – (Acadepol). A perita Maria da Conceição Krause concluiu e divulgou o relatório com a autópsia psicológica da estudante Fernanda Lages, o qual afirmava que a estudante tinha perfil suicida. De acordo com a conclusão da autópsia de Krause, antes de morrer, a jovem estava com “decadência biopsicossocial”, que consiste no comportamento depressivo o qual Fernanda estava apresentando nos últimos meses de vida. Após a divulgação do laudo, o empresário Paulo Lages, de Barras, pai da estudante Fernanda Lages, contratou advogado para processar o Estado do Piauí e a perita do Distrito Federal, Maria da Conceição Krause. Ele entendeu que a perita denegriu a imagem da sua filha ao divulgar o resultado da perícia psicológica para a qual foi contratada pela Secretaria de Segurança. Segundo um membro da família Lages, Conceição Krause só faltou chamar Fernanda Lages de prostituta, quando discorreu sobre a suposta vida mundana da estudante. Essas afirmações chocaram muito a família da estudante que foi encontrada morta no canteiro de obras do Ministério Público Federal (MPF), fato que provocou a maior polêmica, levantou suspeições de envolvimento de pessoas poderosas da sociedade local. Cinco anos depois, o Ministério Público mantém posição contrária ás conclusões das polícias Federal e Civil e considera que Fernanda Lages tenha sido assassinada. Apenas o promotor de Justiça Ubiraci Rocha continua responsável pelas investigações.


Fonte: Portal AZ.