Escrito por Saraiva    Dom, 20 de Janeiro de 2019 08:33    Imprimir
Estudante que assistia aula em maca, ganha cadeira e quer retribuir ajuda como médico

A história do estudante Leandro Silva de Sousa, de 21 anos, da Universidade Federal do Piauí (UFPI), despertou a solidariedade do povo piauiense. Paraplégico, ele conseguiu comprar a cadeira de rodas motorizada com elevação automática (custou R$18,5 mil) por meio de doações. Com ela, o sonho de formar em Medicina, ser um profissional com especialização em neurologia, poderá se realizar. Ele fala do processo de adaptação e quer retribuir a ajuda com a profissão de médico. 

O estudante ficou conhecido nacionalmente quando passou a assistir às aulas deitado em uma maca após uma lesão que o impossibilitou de ficar sentado por longas horas. A lesão surgiu em decorrência das repedidas feridas no mesmo local que o fez perder um pouco do coxim adiposo do glúteo esquerdo.

Estudante Leandro Silva de Sousa ficou paraplégico após ser atingido com três tiros.

Sensibilizados os amigos de classe, com apoio do centro acadêmico do curso de Medicina, decidiram lançar uma "vakinha virtual #TodosPorLeandro" para alcançar o dinheiro necessário para a compra da cadeira de rodas motorizada, que o deixaria na posição ereta (em pé), reduzindo a pressão e evitando uma nova lesão. 

Foi assim que a determinação do Leandro rompeu as barreiras da sala de aula e chegou ao conhecimento de diversos desconhecidos, que decidiram apoiar essa meta, tanto no Piauí como em outros estados. 

"A cadeira deu certo. Graças a Deus. Eu sempre achei que iria dar certo (a doação), mas não sabia que seria tão rápido. A sensação é de pura gratidão porque diante de uma sociedade em que vivenciamos tanta coisas ruins ainda há muita gente boa e solidária com o outro. O que penso em fazer como agradecimento a todos que me ajudaram é me formar e prestar um serviço de qualidade para a sociedade. Eu me senti amparado e com muita gratidão", declarou Leandro. Estudante Leandro com colegas do Curso de Medicina

Com o dinheiro arrecadado, Leandro conseguiu comprar a cadeira em agosto de 2018 e custear as passagens aéreas para fazer tratamento na Rede de Reabilitação Lucy Montoro em São Paulo, que atende os moradores locais, mas que decidiu abrir uma exceção para o piauiense.  Lá ele aprendeu a usar corretamente a nova cadeira e a cuidar melhor da saúde para evitar as lesões. Em janeiro de 2019, ele retornará a São Paulo para dar continuidade ao tratamento.

Apesar de estar com a cadeira desde o segundo semestre do ano passado, Leandro não a usa para sair de casa devido a falta de acessibilidade em muitos lugares e porque ela é muito pesada. Ele ainda está se adaptando a ela e de como irá usar fora da residência.


"Quando fiz a campanha, a ideia era usar a cadeira na universidade porque passo a maior parte do meu tempo, umas oito horas, todos os dias. Só que eu ainda não consegui me adaptar a tudo (com ela), e lá não tem acessibilidade, e eu não tenho um carro acessível para colocar essa cadeira porque ela pesa 100 kg. A única ideia, sendo bem sincero, é uma carrocinha para que eu possa adaptar e colocar a cadeira sem precisar levantar. De outra maneira, ainda não pensei. Essa cadeira é muito útil para mim para todos os momentos, em casa eu preciso muito fazer descarga de peso e ela me ajuda. Todos os dias eu fico em pé nela só que eu ainda não a usei na rua por causa do peso (e da falta de acessibilidade) e estou buscando adaptações".

Estudante Leandro Silva de Sousa.

Ele também aguarda que as reformas de acessibilidade na UFPI - Campus Ministro Petrônio Portela, na zona Leste de Teresina, cheguem até as salas, banheiros, departamentos e laboratórios usados por ele no seu cotidiano acadêmico. Com as reformas, ele poderá usar a cadeira comprada com o dinheiro da doação na universidade.  Leandro ressaltou que a usará quando estiver no Hospital Universitário. 

"Na universidade, eu não a utilizo muito, falta mais acessibilidade. Na parte que eu frequento não vi muita diferença, mas eu sei que anunciaram investimentos e que as mudanças já podem estar ocorrendo em outros lugares. Uns banheiros dá para usar e outros não. Não sou o único que necessita dessas reformas. Eu vou usar mais quando estiver no internado, no hospital (universitário), daqui a uns dois anos", disse. 

A UFPI informou ao Cidadeverde.com que as obras para ampliação da acessibilidade na instituição estão em andamento. Várias pistas para bicicletas, pessoas com deficiência visual e locomotora, e acessos para pedestres que também atende às cadeiras de rodas já estão disponibilizados em alguns pontos.  

Leandro conseguiu tratar a lesão que o impedia de permanecer sentado. Agora, ele assiste às aulas com outra cadeira de roda, uma normal e, para evitar dores e lesões, intercala com o uso da maca na sala de aula.

Estudante Leandro Silva de Sousa.

O acidente e o sonho da Medicina

Atualmente, Leandro tem 22 anos e cursa o quarto período de Medicina. Aos 17 anos, ele não sonhava com esse curso e foi atingido com três tiros de arma de fogo ao tentar separar uma briga, no bairro Promorar, zona Sul de Teresina.  Um dos tiros lesionou a coluna de Leandro, que o fez perder os movimentos das pernas. 

"Eu passei muito tempo acamado, fiquei muito triste. Foi um choque, mas aí eu decidi estudar, fazer Medicina e ajudar outras pessoas". Decidido, Leandro se dedicou a estudar para o Exame Nacional do Ensino Médio em 2016. As dificuldades financeiras e de saúde não o impediram.

A família pagou por um cursinho de redação em uma escola particular, que, depois de uma peregrinação e ajuda de um amigo, conseguiu o e-mail de um dos proprietários. Leandro contou a sua história, os seus sonhos e a dificuldade de pagar um cursinho voltado para Medicina. Ele conta que foi  abençoado pela solidariedade e conseguiu ajuda para frequentar o curso. A lesão na região do quadril o fez deixar a sala de aula, mas isso não o fez desistir. Ele continuou os estudos em casa, com a ajuda dos amigos que levavam o material e a família que pegava na escola.   Estudou, se dedicou e em 2017 conseguiu a aprovação em Medicina.

 

Fonte: Portal Cidade Verde

Última atualização ( Dom, 20 de Janeiro de 2019 08:42 )