Escrito por Saraiva    Sáb, 16 de Janeiro de 2021 17:55    Imprimir
Investigados em operação da PF no Piauí teriam sido orientados a “segurar a onda”

Servidor da SESAPI ou da FEPISERH que não for deputado, casado com deputada estadual, nem for o próprio Secretário de Estado da Saúde, é bom refletir sobre o caminho que vai seguir após da deflagração das Operações Campanile e Onzena. Se estiver metido nos esquema, claro.

Considerando que vários diretores da SESAPI e integrantes de comissões estão sendo investigados, é bom lembrar que a Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União não foram ao Centro Administrativo ao acaso. Reviraram as gavetas de um dos empresários mais influentes nos bastidores do poder, a celebridade das redes sociais Jadyel Alencar. Não foi pouca coisa.

Só uma das empresas de Jadyel faturou em 2020 mais de R$ 100 milhões de reais; ele pode bancar os melhores advogados do país por décadas; e os "orêa-seca" vão se lascar primeiro (foto: Jailson Soares | PoliticaDinamica)

DENÚNCIA MASTIGADA

Alguém com informações bem exatas fez a denúncia. Talvez alguém de dentro da SESAPI, talvez alguém de dentro das empresas. Mas com certeza alguém com muita informação. Então os próximos parágrafos devem servir de alerta para os envolvidos no esquema.

Em 2015, quando o vereador Neto dos Corredores, lá da cidade de Campo Maior-PI, denunciou o esquema de roubo de recursos do transporte escolar, ele não tinha a menor noção do tamanho do esquema que estava sendo entregue. Foram três anos para a PF juntar as informações todas. Desta vez, a PF já pegou quase tudo mastigado, segundo o que foi dito em coletiva de imprensa após a primeira fase da Campanile.

TEM QUE APRENDER COM A TOPIQUE

Em 2018, quando veio a Operação Topique, todos os servidores do governo envolvidos receberam uma mensagem: “segure as pontas, que nada vai acontecer”, uma falsa ilusão de que se nada acontece com Rejane, com eles também não.

Quem está de fora, diante do silêncio da imprensa e da morosidade da Justiça às vezes se deixa convencer por esse mantra do “nada vai acontecer”. Mas “segurar as pontas” pode não ser o melhor caminho.

A blindagem e a Comunicação do governo protegem apenas Rejane e Wellington Dias, o resto que lute! (foto: Jailson Soares | PoliticaDinamica.com)

O esquema da Topique já funcionava a quase uma década, tempo em que os peixes grandes conseguiram acumular recursos e vantagens capazes de pagar – pelo menos até aqui – a defesa feita por grandes bancas de advogados. Mas até o estilo de vida esbanjador ficou mais de lado.

Vamos lembrar: Helder Jacobina, que “segurou as pontas”, andava de Land Rover e recebeu casa no valor de R$ 1 milhão de reais. Hoje é réu em pelo menos dois processos por lavagem de dinheiro e por corrupção passiva. E vem mais por aí. Trocou um futuro promissor na advocacia por uma angústia diária de não ter perspectiva de escapar. E, saibam, ele não vai se livrar de uns dias no xilindró.

Virou réu antes da ex-secretária de Educação, Rejane Dias (PT). Não se sabe o motivo, mas ainda não foi fazer sua delação premiada, cada vez menos vantajosa à medida que passa o tempo. O acordo teria um peso maior antes dele ser réu, terá muito menos depois de ser condenado.

Enquanto ação contra Rejane corre em foro privilegiado; o advogado Helder Jacobina, o tenente-coronel Ronald Moura e Pauliana viraram réus na Operação Topique; cadeia é apenas uma questão de tempo (fotos: jailson Soares | PoliticaDinamica.com)

Helder Jacobina não entendeu que o governador Wellington Dias (PT) pode parecer seu melhor amigo de infância, mas é casado com Rejane, e só com ela. O casal possui mandato eletivo e foro privilegiado, sem falar nas duas décadas de relacionamento nos bastidores dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário inclusive. E isso conta.

BLINDAGEM VAI DIMINUIR

Ainda assim, é difícil que Wellington Dias consiga para a sua esposa o que ele alcançou para si na Ação Penal 805. Este era o processo que o petista respondia desde 2010 por suposto crime de homicídio culposo pela morte de, oficialmente, 9 pessoas na tragédia da Barragem de Algodões. Wellington Dias escapou do julgamento porque o processo prescreveu. A gente contou essa história aqui, veja:

Aliás, a estratégia de defesa de Rejane, comenta-se nos bastidores, está pronta para jogar a culpa exatamente em Helder, acusando-o de se aproveitar da boa fé da petista. E essa narrativa vai ganhar força se ele for condenado antes que ela própria vire ré e seja julgada.

Em menos de 2 anos a envergadura política de Wellington será menor que a de hoje. Ainda que faça o sucessor – e nada pode garantir isso --, ainda que seja eleito senador – e nada pode garantir isso –, já não vai caber todo mundo no bote salva-vidas onde ele e a esposa não cedem lugar a ninguém.

E mais: o interesse nacional da Topique sempre pareceu bastante limitado. Mas a pressão popular, o apelo político e a relevância social dão ao Covidão, em qualquer estado do Brasil, uma importância urgente.

O tempo para delatar é muito mais curto.

 

 

Fonte: Política Dinâmica

Última atualização ( Sáb, 16 de Janeiro de 2021 18:07 )