Escrito por Saraiva    Sáb, 28 de Julho de 2012 14:39    Imprimir
Histórico: Sarah Menezes conquista primeiro ouro do judô feminino

Quando saiu do Brasil rumo a Londres, a pequena Sarah Menezes carregava expectativas desproporcionais para seu tamanho. Lutadora mais leve da seleção de judô, a peso-ligeiro, de apenas 1,52m e 48kg, era a grande esperança de primeira final olímpica do Brasil entre mulheres na história da modalidade. 

A piauiense de 22 anos, porém, foi além: com a vitória neste sábado sobre a romena Alina Dumitru, campeã dos Jogos de Pequim 2008, Sarah entrou para a história como a primeira mulher brasileira a ganhar uma medalha de ouro no judô nas Olimpíadas. A grandeza da conquista pode ser medida também na comparação com outras modalidades. Até este sábado, só uma mulher brasileira havia conseguido o ouro em prova individual na história das Olimpíadas: Maurren Maggi, no salto em distância, em Pequim 2008. Os olhos, pequenos, pareciam fuzilar. Sequer se importava com os cabelos, despenteados, teimando em cair no rosto. Dos treinos com meninos, na infância, ao inédito ouro feminino, precisou de duas Olimpíadas. Sarah, princesa do Piauí, fez o Hino Nacional tocar pela primeira vez em Londres. - Acredito que essa medalha vai mudar minha vida a partir de agora. Esperava muito chegar nesse pódio olímpico e cheguei com 22 anos. Estou muito contente mesmo - disse Sarah, após descer o degrau mais alto, com o ouro no peito. Resgatou uma medalha dourada que não vinha havia duas décadas. A cajuína se junta a Aurélio Miguel, ouro em Seul-1988, e Rogério Sampaio, em Barcelona-1992. Os dois estavam ali, na plateia da Arena Excel de Londres. Assim como o ministro do Esporte, Aldo Rebello, e Jacques Rogge, presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI). Mas o que importava para ela era a bandeira do Piauí, na 12ª fila. Quem a seguravam eram Sâmia, aniversariante do dia, e Samira. As irmãs da campeã.

 Sarah Menezes vibra ao conseguir pontuar contra Alina Dumitru na final olímpica 

 Emocionada, Sarah comemora conquista da medalha de ouro 

 

Do Piauí a Londres, festa por ouro inédito

Ali, no tatame, ela parece a Sarah que, menina, por vezes ia treinar escondido, que não imaginava correr o mundo atrás de medalhas. Que treinava com garotos porque queria ser a melhor. Agora, é a melhor.

Sarah gosta de arrumação, mas tudo muda naquele quadrado. Ao pisar no piso amarelo, não se preocupa com os cabelos, com nada. Olha as adversárias e vê apenas pontos: onde segurar, como encaixar cada golpe.

Na primeira luta, uma vitória simples, dois yukos, sobre a vietnamita Ngoc Tu Van. Depois, sofrimento. Contra a francesa Laetitia Payet, triunfo a 18 segundos, de novo com um yuko. A chinesa Shugen Wu assustou nos últimos segundos. Ficou para trás.

Coordenador da seleção, Ney Wilson comemorou a derrota da japonesa Tomoku Fukumi, número 1 do mundo. Os dados estavam ali: contra Alina Dumitru, Sarah tinha três vitórias em cinco lutas. Venceu as três últimas. Contra Fukumi, quatro derrotas.

Rosicléia Campos, a treinadora com fama de "escandalosa", segurou o quanto pôde. Com o lugar na final assegurado, esbravejou. Trincou os dentes, como se estivesse com raiva. Era alegria, alívio. A vitória contra a belga Charline Van Snick garantia a ela ao menos uma medalha de prata. Sarah queria mais.

- Tenho muito orgulho dela porque ela é fã não só minha, mas da seleção toda. A ficha caiu com a medalha, mas ainda estou muito emocionada. Quero dividir com todos que me ajudaram com minha carreira e que estiveram comigo - disse a judoca.

A luta final começou com muito estudo. As duas mediam a distância na briga por pegada. Sarah foi a primeira a tentar uma entrada, bem defendida por Dumitru, que aparentava sentir dores no braço direito. A romena começou a girar mais para tentar evitar que a brasileira a atacasse. Com pouco menos de quatro minutos restando, Sarah quase conseguiu uma queda. Dumitru defendeu, mas a brasileira atacou no solo, chegando perto de encaixar uma chave de braço. Uma vez que percebeu que o caminho era por ali, a piauiense atacou novamente o braço e conseguiu um shido (advertência) contra a romena.

Ciente de que poderia perder a luta com nova advertência, Dumitru passou a ser mais incisiva e foi com tudo para um golpe de quadril, que quase entrou. A romena assustou com uma técnica de pé, mas Sarah contragolpeou e conseguiu um yuko, abrindo 1 a 0 de vantagem. Os últimos 18s pareciam que seriam de tensão, mas Sarah atacou e conseguiu um wazari para assegurar o ouro. Ela ainda foi para o estrangulamento antes de o cronômetro zerar. Um wazari e um yuko a zero para Sarah Menezes, primeira judoca campeã olímpica do Brasil.

Ouro carregado de significados especiais

O ouro de Sarah foi carregado de significados diversos. Foi o primeiro ouro do Brasil em Londres 2012, logo no primeiro dia oficial de disputas; o primeiro ouro do judô em 20 anos; e a 17ª medalha do judô em Olimpíadas, tornando a modalidade, provisoriamente, a mais vencedora entre todas as do Brasil na história dos Jogos, superando a vela, que acumula 16 medalhas.

Não foi uma surpresa e sim o resultado de um processo de crescimento em público. Aos 18 anos, Sarah Menezes foi campeã mundial júnior, em Amsterdã, na Holanda, e se tornou automaticamente a grande esperança da modalidade. Naquele mesmo ano, estreou em Olimpíadas, em Pequim 2008, e caiu logo na primeira luta. Em 2009, conquistou o bicampeonato júnior, foi eleita Atleta do Ano pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e iniciou sua escalada entre os adultos. Em 2010, foi medalha de bronze no Mundial de Tóquio; dois anos depois, chegou à prata no Mundial de Paris. Durante os quatro anos do ciclo olímpico, colecionou ouros em etapas de Grand Slam, Grand Prix e Copa do Mundo, sem jamais deixar os treinamentos em Teresina, no Piauí, sua casa, onde é ídolo para milhares de crianças e é tema até de forró.

Confira como ficou o pódio na categoria ligeiro feminino (até 48kg):

 

1ª: Sarah Menezes (BRA)

2ª: Alina Dumitru (ROM)

3ª: Charline Van Snick (BEL)

3ª: Eva Csernoviczki (HUN)

 

Fonte: Globoesporte.com