Escrito por Saraiva    Ter, 04 de Maio de 2021 14:20    Imprimir
Com deputados na boca da porca, MDB cobra governador do Piauí mais espaços no Governo

O deputado estadual João Mádison está desesperado. Como se diz no interior, ele está na boca da porca. E a situação dele preocupa todo o MDB num efeito dominó. Tanto que os demais deputados deram a ele apoio para puxar a faca e cobrar do governador Wellington Dias (PT) mais esforço para eleger os caciques do partido em 2022. E essa conta vai sair cara pro Piauí.

O FIM DAS COLIGAÇÕES

Para quem não lembra, o finado deputado federal Assis Carvalho, na condição de presidente estadual do PT, queria que seu partido seguisse em chapa pura para a disputa proporcional. O MDB achacou o governador Wellington Dias até que o PT fosse forçado a entrar na coligação geral da base.

João Mádison: a língua que fala pelos bastidores do MDB pode ficar fora da ALEPI nas próximas eleições (foto: Jailson Soares | PoliticaDInamica)

O efeito prático disso foi que o MDB teve 50 mil votos a menos que o PT, mas emplacou 6 deputados na Assembleia, contra apenas 5 dos petistas. Foram os votos do PT que também garantiram a eleição de Marco Aurélio Sampaio, do MDB, como deputado federal, na última vaga da coligação.

O MDB concentra sua votação historicamente em 6 caciques do partido. Isso foi desestimulando lideranças com expectativa menor de votação a permanecerem na sigla. Ao mesmo tempo, no PT, apesar dos casos de personagens mais favorecidos (uma vez o próprio Assis Carvalho, outra vez Rejane Dias, e mais recentemente Francisco Limma), a votação é mais distribuída entre militantes do partido.

Agora não tem mais coligação. O PT -- achem ruim ou não -- fez o dever de casa e está pronto para aumentar suas bancadas proporcionais. O MDB quer mais uma vez "passar de ano colando".

O EXEMPLO DE JOÃO MÁDISON

O mais folclórico deputado do MDB em atividade hoje no Piauí está prestes a ficar sem mandato, como aconteceu nas eleições de 2002. Naquele ano, ele atingiu a marca 17.044 votos, sendo apenas o sexto nome do seu partido nas eleições, ficando na primeira suplência do partido.

Será a hora da porca? Nas últimas 5 eleições, João Mádison foi eleito 4 vezes, em todas as vezes na sexta e última vaga do MDB (foto: Jailson Soares | PoliticaDInamica)

De lá pra cá, foram 4 mandatos consecutivos: em 2006, João Mádison conseguiu 23.164 votos, foi o 23º colocado geral, sendo o sexto e último do seu partido.

Já nas eleições de 2010, Mádison novamente ficou na sexta vaga de seu partido, conseguindo se eleger com uma votação inferior de quatro anos antes, com um total de 22.820 votos.

Em 2014, novamente a sexta colocação dentro de seu partido. Mais uma vez o último deputado eleito pelo MDB, com 26.722 votos.

Para não quebrar a tradição, como se fosse coisa combinada, novamente João Mádison ficou com a sexta e última vaga do MDB nas eleições depois de chegar aos 30.118 votos, sua maior votação como deputado estadual do Piauí. É uma votação que cresce, dá pra ver, mas não tanto quanto o gado de primeira qualidade que ele tem em suas fazendas.

Se o MDB perder uma vaga na ALEPI, quem será que tem mais chances de se dar mal? É, as coisas não estão bem para ele, até por que nas últimas eleições estaduais, o quinto colocado do MDB, Pablo Santos, ainda teve quase oito mil votos a mais que João Mádison. E sem falar das inúmeras derrotas nas eleições municipais de 2020, a começar pela desmoralizante vitória de seus adversários no município de Corrente, berço político do deputado emedebista.

Enquanto PT faz contas para crescer sua bancada, o MDB fica arquitetando como manter a cadeira de João Mádison na ALEPI, nem que seja beirando o achaque (foto: Jailson Soares | PoliticaDinamica)

A EVOLUÇÃO DE MDB E PT

Tivemos o cuidado de ir atrás dos números. Em 2002 o então PMDB teve 267.858 votos para deputado estadual no Piauí. Isso correspondeu a 18% dos votos válidos na disputa por cadeiras na ALEPI. Naquele mesmo ano, o PT teve 139.680, um total de apenas 9,5 % dos votos válidos.

Quatro eleições depois, em 2018, o agora MDB teve 285.524 votos para deputado estadual, o que equivale a 15,72% dos votos válidos daquela disputa. Por sua vez o PT somou 335.324 votos, um total de 18,46% dos votos válidos, se tornando o maior partido em números absolutos de voto.

De 2002 pra cá, o eleitorado do Piauí cresceu 28%. O número de votos válidos dados a candidatos a deputado estadual subiu 24%. Mas enquanto o PT cresceu sua votação em 140%, o MDB -- estacionado no conforto das coligações -- cresceu míseros 6,5%.

MDB em reunião para ver como tirar vantagem de outros partidos da base governista nas eleições de 2022 (foto: Ascom Marcelo Castro)

VAI SAIR CARO

Que a porca venha a comer João Mádison com farofa não é nada que vá tirar o sono de qualquer outro deputado do MDB. Porém, um deputado a menos na ALEPI significa um espaço menor no governo e isso, acreditem, deixa qualquer filiado do partido insone. Por isso João é apoiado ao declarar que "o governador tem que se interessar mais pelo MDB", uma ameaça velada, numa tentativa de pintar com sutileza um quadro de coisa que parece achaque.

Para resolver esse problema de maneira pragmática, só tem um jeito: o governador Wellington Dias ceder mais espaços ao MDB, para que o partido possa entregar esses espaços a candidatos que possam ajudar na votação da legenda. Quem sabe, dando ao MDB a Secretaria de Meio Ambiente, que hoje está nas mãos do Progressistas.

Se olharmos para 2018, vamos ver que depois de João Mádison, a candidata mais votada do partido foi Liziê Coelho com 18.318. Essa é uma votação que dentro de um partido médio pode eleger um deputado, mas como se vê, no MDB, não passa de "bucha".

Esse abraço pode sair muito caro para o governador Wellington Dias, mas no final, é o contribuinte piauiense quem paga a conta (foto: Jailson Saores | PoliticaDInamica)

Os mais de 50 mil votos que o MDB precisa para manter sua bancada não são fáceis de achar por aí. E se acharem, também não é barato.

João chegou a comentar com jornalistas que o governador deveria remanejar filiados do PT para o MDB.

Se eu fosse petista, deixava essa fala de João Mádison na conta de piada, e se o governador desse cabimento a esse acordo de Oeiras botava na conta de afronta.

Mas eu não sou, então deixa esse pessoal se entender sozinho.

 

Fonte: Política Dinâmica

Última atualização ( Ter, 04 de Maio de 2021 14:32 )